Domingo, 27 de novembro de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
Outro dia pensei em Betty Catroux, ícone de elegância e sofisticação em Paris.
Filha de uma brasileira, Carmen Saint, ela é uma mulher de 61 anos, linda, glamourosa, loura, com os cabelos até os ombros (nunca mudou de penteado), mede 1m80, e pesa 50 quilos. Betty é casada com um famoso decorador francês, e foi a musa do grande gênio da moda, Yves Saint Laurent, que a considerava sua irmã _ gêmea.
Foi praticamente a maior manequim do costureiro, pois só se vestia com as roupas dele, mas sem ter jamais desfilado nem fotografado, profissionalmente, suas coleções _ mas quando se falava dela, se estava falando de Saint Laurent. Betty sempre declarou, com simplicidade, que nunca teve - e continua não tendo _ s a mínima idéia do que se passa na moda, pois não se interessa pelo assunto. Jamais comprou um só vestido, pois ganhava todos de presente do seu amigo, e foi nela que ele se inspirou, quando desenhou seu famoso smoking. Ela sempre se vestiu como um garoto: jeans, calças compridas, camisetas, camisas _ algumas luxuosas _, casacos de couro, sapatos sem salto. A declaração mais surpreendente de Betty, quando perguntada sobre o que fez e o que faz em Paris, sua resposta foi sempre a mesma, corajesamente: nada.
OK, ela tem um marido que deve ser rico, teve o privilégio de ser a maior amiga de um grande costureiro, mas em um mundo em que todas as mulheres são obrigadas a terem uma profissão, ou a escolher entre fazer ginástica, frequentar um curso de arte, se interessar por jardinagem, pintar porcelana ou viver de almoço em almoço, de loja em loja, para matar o tempo, ela responde, corajosamente: nada.
Acho o máximo; enfim uma mulher que não está na vida para fazer o que _ dizem _ as mulheres têm que fazer, para terem o direito de existi. Quanto a sua vida pessoal, que foi trepidante nos anos 60, ela diz que nos dias de hoje só faz ficar em casa com o marido, com quem é casada há 30 anos, e seus quatro gatos. Fazendo o que? Nada.
Ela não é dada às prendas domésticas, não acha a menor graça em comer, sorte a dela, continua deslumbrante, e odeia viajar, o que só faz quando tem um objetivo definido.
Betty teve uma vida que foi o máximo da sofisticação; saía toda as noites _ sempre com Saint Laurent _, e passava temporadas de sonho em Marrakech, onde os dias corriam soltos na casa deslumbrante que o costureiro tinha na cidade. Iam todos os dias ao mercado, se vestiam simplesmente, com caftans e sandálias que compravam dos artesãos locais, e assim passavam os verões, não fazendo rigorosamente nada.
Saint Laurent trabalhava, e muito: houve um momento em que desenhou 1.500 vestidos em 15 dias, sempre com Betty ao lado. Ela não se envolvia nas suas criações mas o inspirava, e enquanto ele foi vivo, nunca se largaram.
Cada pessoa é de um jeito, algumas enlouquecem, se não tiverem o que fazer, já outras não têm a coragem de viver como mais gostariam, isto é, sem fazer nada _ e isso não tem a ver com o fato de serem ricas ou não.
Estou falando da coragem de se assumir, o que Betty Catroux fez sem nenhum preconceito, e sem seguir a ditadura que diz que as mulheres têm que, etc. etc. Ela viveu e continua vivendo, linda e loura, fazendo o que mais gosta, isto é: nada.
Foi praticamente a maior manequim do costureiro, pois só se vestia com as roupas dele, mas sem ter jamais desfilado nem fotografado, profissionalmente, suas coleções _ mas quando se falava dela, se estava falando de Saint Laurent. Betty sempre declarou, com simplicidade, que nunca teve - e continua não tendo _ s a mínima idéia do que se passa na moda, pois não se interessa pelo assunto. Jamais comprou um só vestido, pois ganhava todos de presente do seu amigo, e foi nela que ele se inspirou, quando desenhou seu famoso smoking. Ela sempre se vestiu como um garoto: jeans, calças compridas, camisetas, camisas _ algumas luxuosas _, casacos de couro, sapatos sem salto. A declaração mais surpreendente de Betty, quando perguntada sobre o que fez e o que faz em Paris, sua resposta foi sempre a mesma, corajesamente: nada.
OK, ela tem um marido que deve ser rico, teve o privilégio de ser a maior amiga de um grande costureiro, mas em um mundo em que todas as mulheres são obrigadas a terem uma profissão, ou a escolher entre fazer ginástica, frequentar um curso de arte, se interessar por jardinagem, pintar porcelana ou viver de almoço em almoço, de loja em loja, para matar o tempo, ela responde, corajosamente: nada.
Acho o máximo; enfim uma mulher que não está na vida para fazer o que _ dizem _ as mulheres têm que fazer, para terem o direito de existi. Quanto a sua vida pessoal, que foi trepidante nos anos 60, ela diz que nos dias de hoje só faz ficar em casa com o marido, com quem é casada há 30 anos, e seus quatro gatos. Fazendo o que? Nada.
Ela não é dada às prendas domésticas, não acha a menor graça em comer, sorte a dela, continua deslumbrante, e odeia viajar, o que só faz quando tem um objetivo definido.
Betty teve uma vida que foi o máximo da sofisticação; saía toda as noites _ sempre com Saint Laurent _, e passava temporadas de sonho em Marrakech, onde os dias corriam soltos na casa deslumbrante que o costureiro tinha na cidade. Iam todos os dias ao mercado, se vestiam simplesmente, com caftans e sandálias que compravam dos artesãos locais, e assim passavam os verões, não fazendo rigorosamente nada.
Saint Laurent trabalhava, e muito: houve um momento em que desenhou 1.500 vestidos em 15 dias, sempre com Betty ao lado. Ela não se envolvia nas suas criações mas o inspirava, e enquanto ele foi vivo, nunca se largaram.
Cada pessoa é de um jeito, algumas enlouquecem, se não tiverem o que fazer, já outras não têm a coragem de viver como mais gostariam, isto é, sem fazer nada _ e isso não tem a ver com o fato de serem ricas ou não.
Estou falando da coragem de se assumir, o que Betty Catroux fez sem nenhum preconceito, e sem seguir a ditadura que diz que as mulheres têm que, etc. etc. Ela viveu e continua vivendo, linda e loura, fazendo o que mais gosta, isto é: nada.