domingo, 21 de agosto de 2011

Um beijo para Marina


Domingo, 10 de outubro  de 2010 por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo


EU FAZIA UMA ideia meio geral sobre parte do povo brasileiro: achava que ele não se interessava pela propaganda eleitoral, e quando, entre uma novela e outra, via os candidatos, prestava atenção aos que tinham o tal do carisma, ou votava em quem eles mandavam, e só.
Foi uma grata surpresa (entre outras ingratas) saber, pelos resultados, que muita gente acompanha o que acontece na política mais do que se pensa.
Marina foi o acontecimento, e não pelo ambientalismo; não creio que 20 milhões de brasileiros estejam tão ligados a essa causa.
O que encantou na candidata foi sua sinceridade, ver que ela falava o que pensava, que nada era decorado, e não por estar querendo ganhar a eleição -ela sempre soube que isso não ia acontecer; a honestidade com que se expôs durante o horário eleitoral, com pouco mais de um minuto de tempo, sua alegria genuína, quando comemorou os votos que recebeu com seus seguidores, sua ética, tudo isso foi como uma brisa fresca, diante do engessamento de Serra e Dilma.
Marina resgatou o que alguns de nós ainda temos lá no fundo, mas de que não falamos, para não sermos acusados de idealistas -portanto ridículos-, que acreditamos que ainda existem valores, que pode haver alguma coisa boa na política.
De uns tempos para cá, entramos na cabine eleitoral sem alma nem coração, para votar sempre contra alguém.
Mesmo não estando mais disputando a eleição, é dela que mais se fala. Ninguém me tira da cabeça que Marina não deixou o ministério no escândalo do mensalão para não massacrar ainda mais o PT.
Ela também não conta como foram seus embates com a então ministra Dilma, e se contasse, essa eleição estaria mais do que definida. Mas Marina é fina, educada, discreta, e ninguém a verá, jamais, no centro de uma baixaria. Nem ficará, jamais, com quem entre nesse terreno. Mas não complica demais, tá, Marina?
Voltando à eleição, não acredito que nenhuma mulher, seja ela uma adolescente que engravidou por acaso ou uma vítima de estupro, deixe de fazer um aborto porque a/o presidente da República é contra, e não acredito que os votos de Dilma tenham caído por esse motivo, mas sim porque ouvir a candidata falar (sempre sorrindo, mesmo quando se refere ao superavit primário) é um suplício que ninguém merece -e também por causa de Erenice, que eu queria muito ouvir depondo.
E por mais populares que sejam os líderes, uma hora eles nos cansam e por isso são trocados, salvo quando se vive numa ditadura.
Ok, os dois candidatos prometem educação, saúde, segurança, saneamento básico, ciência e tecnologia, y otras cositas más. O que os eleitores querem saber é: como?
Xô, marqueteiros, e xô para essa mania inventada por vocês de dar um minuto para a pergunta e dois minutos e 75 segundos para a resposta, que ninguém é máquina para falar de assuntos importantes num tempo tão curto.
Será que os candidatos não podem se enfrentar para trocar ideias livremente, os dois, diante de uma câmera? É só o que nós, eleitores, queremos.

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