Domingo, 11 de março de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
Se pudesse voltar no tempo, você faria tudo igual? Eu não. Me arrependo de tantas coisas que fiz, tantas que deveria ter feito, que se pudesse reescrever minha vida, mudaria um monte de coisas: as que me fizeram sofrer, e também outras, em que fiz outras pessoas sofrerem.
Se eu fosse de chorar, era a hora; mas o tempo passou, não há nada a fazer, então fico pensando em como seria minha vida, hoje, se tivesse feito tudo como deveria. Se tivesse tido uma vida equilibrada, se nunca tivesse pisado na bola _ em quantas eu pisei _, se nunca tivesse falado o que não devia, se não tivesse engolido sapos, se tivesse tido a coragem de largar aquele homem logo que ele começou a me fazer sofrer, se tivesse tido mais paciência e ficado com aquele em que comecei a ver só os defeitos e que, pensando hoje, me fazia tão feliz.
E continuo pensando, mas dessa vez, tudo ao contrário. Se hoje, passando minha vida a limpo, tivesse feito tudo como mandam alguns figurinos, estaria muito, mas muito arrependida. Olho para trás e me divirto com as loucuras que fiz, sendo que algumas me deixaram literalmente de cama, tão grande foram os vexames, tais as vergonhas que senti na manhã seguinte.
O tempo que perdi ouvindo a mesma música _de Chico, claro_ esperando um telefonema que nunca veio, e sofrendo. Hoje, quando me lembro, dou risada, mas naquele momento pensei que minha vida estava acabada. E as confusões que aprontei, marcando dois encontros para a mesma noite, saindo de um bar à 1h da manhã porque tinha marcado com outro, e o primeiro percebeu, e coisas no gênero.
Mas continuo pensando _ hoje é o dia. E se não tivesse feito nada disso; como estaria hoje, se minha vida tivesse sido certinha? Se tivesse casado com o terceiro namorado, tivéssemos tido um casal de filhos, ele fosse um bom marido, claro, e eu uma boa esposa, claro também. Que poderíamos estar casados até hoje, sem que eu nunca tivesse olhado _ desejado, nem pensar _ para um outro homem, e que a vida tivesse sido o que se chama uma vida boa. O que estaria pensando?
Acho que estaria morta de arrependimento de não ter feito não uma, mas várias, todas (quase) as loucuras, de não ter chutado o pau da barraca muitas vezes mais, de não ter obedecido ao que mandam a família, a tradição e a propriedade.
E no lugar de estar hoje dando risada, estaria chorando por todas as insanidades que deixei de fazer.
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