domingo, 28 de abril de 2013

Se a vida fosse fácil



Domingo, 28 de abril de 2013, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

Se você pudesse escolher, preferiria ter um marido fiel mas que fosse um mau marido _desses que bebem errado e falam o que não devem, e é, frequentemente, um tédio _ ou um marido infiel e ótimo marido? Difícil escolha, e saiba: um ótimo marido se percebe pelo brilho do olho da mulher.
       Teoricamente, um bom marido é aquele que, em primeiro lugar, não trai, e são esses os que as mulheres mais abandonam. Para que uma paixão continue a existir, é preciso que não se tenha muitas certezas, e nenhuma mulher ama um marido fiel demais. Para tudo há limites, até para a fidelidade.
       Quais são os homens mais inesquecíveis da vida de uma mulher? São sempre os que mais aprontam, mais desaparecem, mais traem _ e não confessam nunca _, mas que a faz mais feliz do que todos os bons rapazes do mundo.
       É mais ou menos simples: se um homem é aprovado por todos, nunca é aquele que faz um coração juvenil bater descompassadamente. Não se pode amar alguém aprovado pela família, pela igreja e pela sociedade. Esses são para casar, o que não tem nada a ver com o amor.
       Nada pode incendiar mais um romance do que a oposição da família; ela costuma ter razão, quando é contra, e a família está sempre unida contra os “maus” rapazes. E o amor, então? Desde os Capuleto e os Montecchio (famílias de Romeu e Julieta, para quem esqueceu) tem sido assim, e não há modernidade que mude essa regra. O que mudou foi que hoje não dá nem tempo de alguém ficar contra, porque aí já acabou. E vamos reconhecer, pais e mães estão certos: nessa hora eles estão pensando em seu próprio sossego e em sua própria tranquilidade, no que estão cobertos de razão. Aliás, quase todos têm sempre razão, e algum dia você viu pais e filhos estarem de acordo? Se estão, alguma coisa deve estar errada.
      Eles querem, para marido de sua querida filha, estabilidade em todos os sentidos, começando pela financeira, e que os sentimentos do pretendente também sejam estáveis. É até melhor que ele não ame apaixonadamente; melhor que tenha um sentimento calmo, maduro, confiável. Enquanto isso a filha, com seus hormônios à flor da pele, anseia por um homem que a enlouqueça e a faça perder o rumo de casa. Esse às vezes até casa (quando ela é rica), mas que ninguém espere dele fidelidade; esquecendo esse pequeno detalhe, costumam ser ótimos maridos, capazes de levar a mulher para um motel numa tarde de segunda-feira, ou a um fim de semana em Nova York, a troco denada _ as crianças ficam com a babá, qual é o problema? E se for flagrado às 2h da madrugada tomando um uísque na sala, lembrando de como era boa a vida desolteiro, quando a mulher chega devagarzinho e faz a pergunta, aquela _ “em que você está pensando?” _ ele vai responder, com a maior sinceridade, “em você, amore”. Ela não vai acreditar, mas fica na dúvida: e se for verdade? Esse é um bom marido, e esse casamento vai durar _ sobretudo se o pai dela continuar rico.
    Mas afinal, você quer saber o que preferem as mulheres, se um marido fiel ou infiel? Refleti sobre o assunto, e acredito que a solução deve ser um homem fiel fingir que é infiel, e o infiel fingir que é fiel. Simples a vida, não?

PS 1 _ Para mandar um Sedex (um envelope com UMA folha de papel), do Rio para São Paulo você paga R$ 30,00.
PS 2 – E Rose, hein? Ela é a cara do PT.
      

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