Vi na Folha, terça-feira última, um belo caderno especial, com o nome Sem medo de envelhecer, e como costumo me meter em coisas para as quais não fui chamada, vou dar minha opinião.
Só que, sinceramente, não conheço bem o assunto. Vivo da mesma maneira que vivi a vida inteira; quase nada mudou. Deixei de fazer alguma coisa que fazia antes? Poucas, que não me fazem falta (a natureza é sábia), mas sei que fiquei mais impaciente com as pessoas. De resto, tudo igual, praticamente.
Tenho observado que, dependendo do país, a velhice é encarada de maneira diferente. Na Europa, p. ex, não se refere a uma pessoa dizendo que ela é velha _ e nem jovem; essas palavras não são usadas quando se fala sobre alguém, seja homem, seja mulher. Ao falar, eles podem dizer, eventualmente “deve ter em volta de 50” (ou 60, ou 70), e só.
O Brasil é difícil, para quem não é mais uma gatinha _ com os homens é diferente, claro _, e a cada ano surge uma “safra” nova, palavra, aliás, bem deselegante; quando um novo verão se anuncia, algumas, que conseguiram alguma notoriedade no ano anterior, pela beleza, pelo frescor da juventude, deixam de ser famosas. Sópermanecem na crista da onda as que têm um algo mais.
Com algum cuidado com a vaidade e a sorte de ter uma boa saúde, os anos passam e a vida (quase) não muda. Todos podem – e devem _ continuar trabalhando, indo à praia, viajando, dançando, comendo, bebendo, namorando, e muitos são mais felizes do que na plena juventude.
Porque sabem o que querem, não perdem tempo com o que não interessa; as mulheres, como já não têm tantas ilusões, sabem que podem ser felizes sem a necessidade de um amor, um companheiro, um marido; um homem, enfim. Se encontrarem, ótimo, mas quando olham para trás e lembram do quanto sofreram quando se acharam apaixonadas _ um homem era necessário, para que uma mulher pudesse existir _, devem pensar: “ah, quanto tempo perdido”. Hoje, homens e mulheres numa faixa de idade mais alta, podem fazer tudo que querem, sem precisar nem mesmo de um amigo/a, porque são mais seguros, coisa que ninguém é, quando jovem. A não ser quando desistem e passam a viver não suas próprias vidas, mas as dos filhos, e depois, as dosnetos. Aí é a aposentadoria da vida, uma escolha pessoal.
A cultura brasileira é cruel, no quesito idade. Dizer que uma pessoa é _ ou parece _ jovem, é um elogio, e chamar de velho é uma maneira de insultar, geralmenteusada quando não encontram outra coisa para dizer àqueles de quem não gostam, com quem não concordam.
A rigor, o assunto nem deveria existir _ a não ser, é claro, para ajudar os que não podem viver com independência, precisando de cuidados especiais, o que pode acontecer com gente de qualquer idade, gente que teve a má sorte de ter problemas de saúde.
Nessa minha última viagem percebi que em Paris, por exemplo, ninguém é apontado como gay; que seja um homem (ou mulher) que tem relações amorosas com pessoas do mesmo sexo, disso não se fala _ tanto como não se fala se alguém é jovem ou não. As pessoas são como são, e ninguém perde tempo “carimbando” ninguém; simplesmente não tem importância.
Mas aqui, ai da mulher que é ou foi bonita, quando os anos vão chegando. Essas não são perdoadas, e a idade que têm é assunto de discussão, se tem 2 anos a mais ou a menos.
Por isso, resolvi aumentar a minha, e se me perguntam, digo que acabei de completar 91 anos; assim, corro o risco de ouvir um “mas que incrível, não parece”, o que é sempre bom de ouvir. E como estou saindo de férias, mando um beijo e até março.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Juventude , Velhice
Domingo, 29 de janeiro de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
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