domingo, 4 de setembro de 2011

Porque não me ufano do meu país



Domingo, 4 de setembro de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

A classe política nunca foi flor que se cheirasse (fora as exceções, etc.), mas a cada nova eleição ela consegue ficar pior. Fico pensando nesses deputados que absolveram Jacqueline Roriz; o que é que eles dizem a seus filhos? Como se explicam? É bem verdade que, sendo o voto secreto, eles podem sempre mentir e dizer que votaram pela cassação, mas será que cola? Mas ainda tem pior: o vergonhoso secretário de Transportes do Rio, Julio Lopes, que depois da tragédia com o bondinho de Santa Teresa tentou botar a culpa no pobre do condutor que tinha morrido; é de uma falta de caráter revoltante.
Depois dessa tragédia, que deixou 5 mortos e mais de 50 feridos, qualquer Secretário de
Governo (sério) teria a obrigação de se demitir; se não o fizesse, o governador teria a obrigação de demití-lo. Mas como o governador é Sergio Cabral, ele continua no cargo; quando perguntado, 3 vezes, se ia demitir o “secretário”, ele simplesmente não respondeu. Quanto tempo falta para acabar esse governo que o Rio não merece?
Se fosse naArgentina ou no Chile o povo iria para a rua; no Brasil _ no Rio _, o máximo que acontece é uma passeatinha muito frouxa, diante do mar _ isso se estiver fazendo sol, para pegar uma praia depois. Aqui, as coisas não acabam em pizza, mas em samba. O governo é o que é, e a oposição, ninguém sabe, ninguém viu. Enquanto isso, os escândalos se sucedem, e a presidente já deixou claro que não vai continuar a faxina _ “faxina é para acabar com a pobreza”, diz ela. Sem corrupção, presidente, o país teria dinheiro para a saúde, a educação, as estradas, etc., e isso me lembra do que dizia o saudoso ministro Mario Henrique Simonsen: “fica mais barato pagar a comissão e não fazer a obra”.
Tremo em pensar na Copa do Mundo; no preço que vão custar as reformas, nas licitações que não vão haver, devido à urgência _ tiveram todo o tempo do mundo e deixaram tudo para a última hora. Aliás, tanto faz. Alguém acredita que alguma licitação no Brasil é séria? Estamos cansados de saber que é tudo combinado antes, viva a criatividade brasileira. Mas o ministro do Turismo, amiguinho de Sarney, continua firme e forte no seu posto. Aliás, é só olhar para para saber que ele é o homem certo para o lugar certo.
Mais do que pelo dinheiro que vai ser afanado, tremo em pensar que um estádio pode cair, como caem as pontes pelo Brasil a fora, por ter sido mal feito, por terem misturado areia com o cimento, para o lucro ser maior. Houve um tempo em que a corrupção era mais personalizada, para usar a palavra da moda; hoje, qualquer escândalo é seguido por “formação de quadrilha”. Que se trate de Fernandinho Beira-Mar, ou dos mais importantes ministros do governo _ desse governo e do outro, o último _ a corrupção agora é coisa de quadrilha.
E prefiro não fazer as contas de quanto tempo falta para as eleições majoritárias, para não pensar nas caras dos governantes rindo muito e voando, de estado em estado, nos jatinhos dos empresários, para ver os jogos do Brasil. E, a cada vez que nossa seleção ganhar, considerar e fazer cara de que a vitória é um pouco deles.
Cansei, mas vou continuar votando; é o que posso fazer.

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