sábado, 28 de abril de 2012

Entendendo o outro


Domingo, 29 de abril de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo


Depois que a psicanálise ficou ao alcance de todos, os filhos deitaram e rolaram nos divãs para falar mal do pai e damãe; sempre com razão, aliás, e sem o menor resultado, aliás também.

Quem são os culpados dos sucessivoscasamentos que não deram certo? Os pais, é claro. Ou porque não tiveram a coragem de se separar, mesmo vivendo mal, ou porque se separaram, o que pode ter sido visto como modelo a ser seguido.

Se a mãe foi uma mulher resignada, dominada pelo marido, que não lutou por sua independência nem procurou o seu caminho, a filha pode se tornar uma adulta igual ou virar o oposto: uma vadia que troca de homem como se troca de camisa. Se essas filhas tiveram um pai que era um marido exemplar, podem passar a vida perseguindo a imagem paterna ou, ao contrário, um grande cafageste, para serem diferentes da mãe. Culpa de quem? Nem é preciso dizer.

Já se o pai foi um derrotado que passou a vida infeliz no mesmo emprego medíocre para dar segurança à família, os filhos podem no futuro serem ou exatamente iguais ou fazer qualquer coisa para ganhar um dinheiro fácil, e terminar até na cadeia.  Em qualquer dos casos a culpa foi, é, e será, sempre, dos pais.

Já virou clichê o filho que passa a vida se lamuriando porque a mãe não contava histórias na hora de dormir, e cujo pai nunca perguntava pelas notas do colégio quando chegava do trabalho, e ai daqueles que saíam para uma festa quando os filhos tinham uma febrinha. Esses passam a vida sofrendo, e sem razão, pois nada melhor do que não ter nenhuma responsabilidade pessoal e ter a quem culpar por tudo que acontece de ruim. Mas nunca nenhum deles parou para pensar como foi a vida desses pais quando crianças. Como foi a infância deles? Feliz, traumática, triste, infeliz? Terão eles recebido carinho dos seus próprios pais? Os analistas não costumam abordar o assunto.

Houve um tempo _ algumas gerações atrás _ em que as crianças, quando faziam uma coisa errada, apanhavam. Quando pequenas levavam palmadas; já maiores, surra de cinto. Hoje, ai dos pais que perdem a cabeça e cobram boas notas do colégio ou levantam a voz. O caminho é só um:arranjar um psicólogo que as crianças frequentarão três vezes por semana, além da reunião de família semanal, com o pai, a mãe, a atual mulher do pai e o atual marido da mãe. Reuniões desse tipo não costumam acabar bem, claro.

As crianças modernas não estão interessadas em entender as razões que levaram suas mães e seus pais a serem menos amorosos ou carinhosos; elas nunca pensaram que a mãe, com 30 anos, mesmo adorando os filhos, às vezes sufocava quando via um homem atraente, e que quando assistia a um filme romântico voltava para casa querendo mandar tudo para o espaço e ir para algum lugar no mundo onde encontrasse um homem que a olhasse como uma mulher ainda desejada. Essa mãe não conseguia nem ao menos entender o que se passava dentro dela; ficava tudo muito confuso, e naqueles tempos não haviaanalistas para explicar o que estava acontecendo (e se já existissem e explicassem, também não resolveria). E qual o pai que um dia, mesmo amando apaixonadamente seus filhos, não pensou que talvez ainda fosse muito jovem para tantas responsabilidades, e que teria sido melhor se tivesse se casado um pouco mais tarde?

Ninguém quer compreender as razões do outro, e ninguém está interessado em saber se seus pais tiveram, dos seus pais e mães, o que gostariam de ter tido.

Porque os pais e mães de nossos pais e mães também tiveram as suas razões, e o mundo foi, é e será assim para todo o sempre _ e amém.

domingo, 22 de abril de 2012

Uma vocação


Domingo, 22 de abril de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo


É muito difícil encontrar o caminho. Como um garoto pode saber o que pretende ser quando crescer?  Do ponto de vista profissional é impossível, a não ser para os raros privilegiados que desde criancinhas botam tala nas perninhas quebradas dos passarinhos, e por isso sempre acharam que queriam ser médicos. Mas, sinceramente: alguém em sã consciência pode, aos 15, ter a certeza de que pretende passar a vida no pregão da Bolsa de Valores?
As coisas vão acontecendo, as ocasiões se apresentando e, como dizem os gaúchos, é preciso estar atento para montar o cavalo quando ele passar arreado. Ele sempre passa, e é só você olhar para trás e lembrar de tudo que já aconteceu em sua vida para reconhecer que talvez o cavalo tenha passado várias vezes —só que você não viu.
Na vida pessoal/afetiva é a mesma coisa. Quantas vezes não aconteceu de aparecer alguém com quem você poderia ter vivido uma bela história, mas que não foi nem considerado na época porque seu coração batia mais forte quando outro chegava —sobretudo quando não chegava; e nem é preciso dizer que foi ele que te largou.
Ah, se na hora a gente soubesse que é preciso não perder nenhuma oportunidade, seja em que campo for, para não chorar no futuro pelas chances que não chegou a ter, pela pior das cegueiras: a cegueira mental.
Então você tem 20 anos e acha que quer trabalhar com moda, porque desde os 17 só pensa nisso. Isso significa que mesmo que esteja estudando e fazendo todos os estágios nas mais gloriosas das faculdades do mundo, está há três anos com uma idéia fixa, e é aí que mora o perigo —ou pode morar.
É maravilhoso saber o que se quer e trabalhar com perseverança para chegar lá, mas a fila está andando; espere que sua grande chance chegue —talvez—, mas, enquanto não acontece, faça coisas, qualquer coisa, mas faça.
Seu sonho é fazer um documentário, mas ainda não conseguiu captar os recursos necessários —é, a vida às vezes é dura, e somos todos injustiçados e incompreendidos. Se alguém te oferece um trabalho por 15 dias, coisa modesta, tipo encapar livros ou ajudar a fazer pulseiras de artesanato, você aceita ou se sente ofendida? Pois aceite: talvez possa descobrir uma vocação que nunca havia percebido para criar bijuterias, talvez acabe criando jóias de verdade e se torne uma nova Paloma Picasso —que para falar a verdade era uma péssima designer, e de maravilhoso mesmo só tinha o nome. No meio do caminho tudo pode acontecer, até mesmo descobrir que sua verdadeira vocação é mexer com metais— e daí para virar escultora é só um passo.
E existem os mares, as florestas, os desertos, os aviões, o carnaval, a televisão, os sabores, a política, o aprendizado, as crianças, o frio, os espelhos, o prazer de andar descalça na grama, a internet, os peixes, o amor, os livros, o vento, a chuva, o futuro, o passado, a memória, a esperança, o sono, a água, o fogo, as letras, os números, o deserto, as religiões, a história, e o melhor de tudo: a imaginação. Não posso conceber que alguém ache a vida um tédio; e de pelo menos uma dessas coisas você pode gostar apaixonadamente.
Vá ao mercado perto de sua casa, olhe um abacaxi e pense no milagre que é a natureza, milagre que se repete em cada fruta, cada árvore, e que uma vida inteira seria pouco para refletir sobre o que é o paladar, o aroma, a textura de cada uma dessas coisas que se olha todos os dias, mas não se vê.
De descoberta em descoberta, o perigo é um dia você descobrir o que mais queria: sua verdadeira vocação.
Se isso acontecer vai ser bom, mas cuidado: você vai abrir mão de todas as outras possibilidades —o que é sempre uma pena.


domingo, 15 de abril de 2012

Ficha Limpa



Domingo, 15 de abril de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

Quando você vai comprar um carro usado, chama um mecânico de confiança para dar uma geral e ver se ele está em boas condições; se se trata de um apartamento, procura conversar com os porteiros, saber se existem problemas no prédio, se a paz reina entre os moradores, e quando vai contratar uma doméstica, além de exigir que tenha carteira de trabalho, ainda telefona aos últimos empregos para indagar detalhes, tipo se tem bom gênio, se é cuidadosa, honesta, asseada, e a última, clássica: E “por que ela saiu de sua casa?”.Perguntas, vamos admitir, da maior indiscrição, mas perfeitamente cabíveis; afinal, é alguém que você não conhece e com quem vai conviver.Aí um dia você acha graça em um homem e deixa que ele não só entre em sua casa como se instale em sua cama e em seu coração. Não sabe bem de quem se trata -ele passou dois anos na Europa, fazendo um vago curso de cinema-, mas, pela maneira como se veste, pelos amigos que tem e as simpatias pelo mesmo partido politico, só pode ser gente fina.A partir desses dados, abre para ele sua vida, achando que a chegada do amor é um tal acontecimento que dispensa qualquer cautela.Quanto aos homens, a situação também é grave; se ela é gostosa, segundo o padrão particular de cada um, é o que basta -e depois reclamam.Mas um belo dia cada um começa a se mostrar como é, e nesse ponto as mulheres, mais dissimuladas que os homens, oferecem uma surpresa por minuto.Aquela que era tão doce, suave, bem-humorada e resolvida escondeu o que verdadeiramente é: dominadora, prepotente e ciumenta. No começo, ele acha graça e até gosta de ter uma mulher tão apaixonada que tem ciúmes.Mas um dia, numa festa, quando ele está conversando com um amigo e os dois sérios, ela imagina que estão falando de mulher; se estão às gargalhadas, devem estar falando de mulher também, claro. Em qualquer dos casos, as consequências podem ser dramáticas: se ela chega e diz “que engraçado, na hora em que eu chego o assunto acaba” ou “de que vocês estavam rindo?” -e eles estavam falando de mulher, claro-, o normal é ela ficar emburrada e voltar para casa sem dizer uma palavra. E quem aguenta uma mulher assim?E ele? Por mais charmoso que seja, quando se conheceram estava sem emprego, dormindo na casa de um amigo -por uns tempos. Foi, aos poucos, se instalando naquele apartamento tão simpático, com aquela mulher que é um doce.Como trabalhar não é seu forte e cinema é uma profissão delicada, continuam assim por meses; afinal, estão se dando bem, ele vai ao supermercado, faz uma massinha quando ela chega do trabalho (ela, que é carente, finge que não percebe e esquece sempre um dinheirinho no cinzeiro).Afinal, ficar sem emprego acontece com qualquer um e, como é uma situação temporária, pra que mudar as coisas?Por tudo isso e muito mais, antes de começar um namoro cada um dos interessados tem o direito, ou melhor, a obrigação de procurar saber como foi com os ex do outro, as qualidades e os defeitos -e sobretudo, como foi a separação-, para avaliar se vai valer a pena o investimento emocional.
Mas talvez seja melhor não; se isso acontecesse, acabariam os casais neste mundo.O jeito é mesmo correr o risco.

domingo, 8 de abril de 2012

Felicidades Enganosas



Domingo, 8 de abril de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo


Quantas vezes pensamos que éramos felizes, e era apenas um engano? E quantas vezes fomos felizes, e estávamos tão distraidos que nem percebemos?

Claro, algumas vezes sim, mas precisa ser uma coisa muito forte para que isso aconteça; quando se compra o primeiro carro, o primeiro apartamento, e a melhor de todas: quando nasce um filho.

Viagens nos dão uma vaga impressão de felicidade, mas não é delas que vamos nos lembrar, um dia, fazendo o balanço da vida. Só o tempo é capaz de dar a dimensão exata de nossos sentimentos _ mas só depois.

Mas é bom, achar que se foi feliz; eu achei que era, no primeiro dia da primeira viagem a Nova York. A vida era bela, não tinha um só problema, achava que viver assim era normal, e eu, imortal. Mas seria aquilo tão maravilhoso assim?

Claro que um certo charme envolvia aquela viagem; só o fato de poder sair de botas e casaco de pele, poder tomar dois dry martinis sabendo que não tinha nenhumaobrigação, tipo levar um filho ao dentista ou ir a um supermercado; não ter que _ isso parecia a imagem da felicidade. E era? Em termos, mas pensando bem _não, era apenas um filme em que eu era roteirista e atriz, mas nada era de verdade.

Por outro lado, aconteceram momentos de felicidade intensa, que na hora nem percebi. Um fim de tarde em que me perdi em Veneza, sozinha. Veneza é das poucas cidades no mundo em que se ouve o ruído dos próprios passos _ o que pode parecer bobagem, mas não é. Aí, atravessei uma pequena ponte sobre um pequeno canal, começava a escurecer, a cidade estava vazia, e aquele momento foi único, só meu, e certas coisas não dá para dividir. A felicidade, por exemplo.

Existiram outros momentos, claro; alguns ficam nítidos, a gente se esquece, um dia ele volta e você se dá conta do quanto foi feliz durante um tempo _ curto _, só que na hora não sabia.

Aconteceu comigo; foi um momento totalmente banal e inesquecível, talvez até por sua banalidade. Era verão, nove da noite, fazia calor e saí com um amigo para dar uma volta na praia. Andamos e acabamos dando um mergulho no mar do Arpoador, naquela noite quente. Nadamos um pouco, depois tomamos uma água de coco e voltamos para casa.

É preciso que fique claro que era um amigo _ e tem melhor do que um amigo? Voltamos rindo e combinamos de repetir o programa outras vezes, mas isso nunca mais aconteceu, nem sei por que.

Nunca vou esquecer da beleza daquela noite, da temperatura da água, do banho de chuveiro quando cheguei em casa, de quando me deitei e vi o final de um péssimo filme na TV. Como eu estava feliz, só que não sabia; lembrei _ e soube _ hoje.

E penso: será que foi tão bom porque foi só uma vez? Se tivesse virado rotina, ainda me lembraria daquela noite com tanto prazer?  E por que, naquela noite, não percebi?

Às vezes penso que se a felicidade fosse um verbo, só seria conjugado no passado.



P.S. – Recado a meus colegas de insônia: estou me adaptando. Depois de receber várias sugestões para resolver o problema, optei por uma delas, e passei a ir para a cama à 1h da manhã (eu ia às 11h), e como acordo às 6h, inventei de andar durante uma hora. Volto para casa às 7,30h exausta, tomo um chuveiro e leio os jornais na maior tranquilidade, já que o telefone a essa hora não toca. Está funcionando.

sábado, 7 de abril de 2012

As noites sem dormir



Domingo, 1 de abril de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo


 Existem os que deitam na cama e dormem. Simplesmente dormem, dormem a noite inteira, e acordam na manhã seguinte leves, descansados, de bom humor. E há os outros, os que não têm sono nunca.
        Mesmo que estejam cansados, exaustos, eles simplesmente não conseguem dormir. A cabeça não para de pensar, seja no que for; esses não têm descanso, não têm paz, e volta e meia olham o relógio para ver quanto tempo se passou, há quanto tempo estão tentando, quanto falta para o dia clarear, e pensam em como vão poder trabalhar no dia seguinte, já que não dormiram.
        Dizem que dormem bem os que têm a consciência leve, mas conheço muitos que a têm bem pesada mas que põem a cabeça no travesseiro e dormem o sono dos justos.
        Os insones tentam de tudo. Desde os chás mais inocentes, à ioga, aos anti-alérgicos – dizem que são ótimos -, até chegarem aos quase pré-anestésicos. Com esses conseguem dormir por algumas horas, mas como o efeito dura pouco, acordam de madrugada, ligados, sem saberem o que fazer.
         Como se conhecem bem, evitam pensar em problemas, em tristezas. Fazem planos para uma futura viagem, uma possível mudança de casa, de vida, não pensam nunca em coisas tristes e fazem os planos mais absurdos para o futuro, mas nem assim. Conheço um que escolheu o número 650, sei lá por que, e vai contando ao contrário: 649, 648, e assim vai indo – e nada. Quando consegue dormir um pouquinho, é um sono tão leve, que nem tem a certeza se dormiu ou não.
          Será um problema físico, ou sinal de uma mente atormentada? Nas horas em que ficou estabelecido que devemos estar dormindo, não dá para ler, não dá para trabalhar, não dá para fazer nada, a não ser ficar agoniado e pedir a Deus para adormecer. Com o universo dormindo, os insones só pensam em uma coisa, que é também dormir. Conheço um a quem aconselharam chá de maconha; ele comprou um pacotinho _ todo mundo tem um amigo para essas coisas _, disse para que era (o amigo não acreditou), fez o chá, e nada. Pensou então que seu sonho seria um anestesista todos os dias, às 11h30 da noite.
          Esse mesmo amigo, depois de consultar vários médicos, soube que a partir dos 60 ninguém precisa das famosas 8 horas de sono; 5 são mais do que suficientes, e deram o exemplo dos bebês, que quando nascem dormem quase o tempo todo. Ok, 5 horas por noite; mas como conseguirdormir 5, e como administrar o resto do tempo?
          Ele tentou alugar filmes; vários filmes. Se eles eram bons, o sono não vinha, claro, e se eram ruins, não dava para assistir. Não, não foi por aí. Uma sexta-feira resolveu não tomar remédio algum, e passar a noite em claro sem angústia, sem pensar em dormir; o tempo não passava, aconteceram alguns cochilos, e só. Lembrou que nunca dorme em longas viagens de avião, mas tinha pelo menos em que pensar: como seria bomquando chegasse, as coisas que iria ver, as novidades de uma cidade nova. Mas dentro do quarto era bem diferente. Se ao menos o telefone tocasse; mas quem iria telefonar, às 3h da manhã?
          Teve a idéia de fundar um clube, o clube dos que não dormem, para ter com quem falar, nas madrugadas, mas o projeto não prosperou.
          Vou confessar: tudo que contei se refere a mim, que nunca tenho sono, e mesmo quando tomo uma bola resisto a dormir, penso que com medo.
          Porque dos pensamentos consigo me defender, mas não dos sonhos.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Perigo Anunciado


Domingo, 25 de março de 2012, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

Afinal , os torcedores vão poder beber sua cervejinha nos estádios durante a Copa, sim ou não? 
O problema entre a base aliada e a oposição, Código Florestal etc., é uma coisa, mas vamos falar de outra: o compromisso que o governo assinou com a Fifa, liberando a venda de bebida alcoólica nos estádios durante a Copa.
Se já acontece tanta violência entre as torcidas em tempos normais, imagine uma briga por um impedimento mal marcado, com os torcedores bebendo. Mas os dirigentes da Fifa e da cervejaria patrocinadora não estão nem aí, é apenas um problema de $$$, e a responsabilidade sobre qualquer tumulto será totalmente do governo.
O Brasil tem que honrar o compromisso que assinou? Tem. Mas foi certo ter concordado com a liberação da bebida? No meu entender, não. E por que então assinou? Porque a Fifa quis, porque a cervejaria que patrocina quis, e as autoridades brasileiras não tiveram coragem de dizer não. O Brasil quis posar de bacana, sediar a Copa e a Olimpíada mostraria ao mundo como somos importantes etc. etc. Que herança, hein, presidente Dilma?
Os que são a favor da medida argumentam dizendo que até o Qatar, país onde é proibida a bebida alcoólica e que será sede da Copa de 2022 -a escolha aconteceu em meio a escândalos de suborno, propinas etc.-, aceitou que o álcool role durante os jogos; pois fez muito mal o Qatar.
Por duas vezes a Fifa foi deselegante com o Brasil -para não dizer moleque. A primeira quando Valcke, seu secretário-geral, disse que o Brasil precisava levar um chute no traseiro para agilizar as obras e garantir a aprovação da Lei Geral da Copa; ele até tem razão, mas escolheu mal as palavras. Dilma não gostou, o ministro Aldo Rebelo declarou que não aceitaria mais Valcke como interlocutor e até pediu que ele fosse trocado. Valcke se defendeu dizendo que foi erro de tradução.
A segunda foi quando, dias depois de ter sido recebido por Dilma, Blatter confirmou que Valcke continua não só como secretário-geral do evento, mas como responsável pela organização da Copa -é o homem forte do Mundial.
Aguarda-se agora a próxima visita de Valcke ao Brasil, considerado persona non grata pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo.