domingo, 7 de abril de 2013

A MODA: E ISSO PEGA?



Domingo, 7 de abril de 2013, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

Quando vim morar no Rio, vindo de Vitoria _ eu era uma criança _, lembro que em Copacabana, onde morava, existia um único personagem gay. Seu nome era Bob; quando visto na rua, era um acontecimento, e logo se comentava “eu vi o Bob hoje” _ e em que lugar, e como estava vestido, e todos os detalhes. Ninguém o conhecia, de conversar, mas ele era uma pessoa que fazia parte da vida do bairro, e era o único.

O tempo foi passando, outros gays foram surgindo _ atores, cantores, artistas em geral _, e ainda mais tarde muitos amigos foram, aos poucos, saindo do armário. No início se comentava, discretamente, essas modificações sexuais; depois, nem foi mais preciso, pois não havia nem mais armário onde as pessoas se escondessem, e a vida ficou mais prática.  O que eu não entendo: será que no tempo em que _ aparentemente _ só existia Bob, a comunidade gay era tão grande como no presente, só que todos se escondiam? Hoje, às vezes, a existência dessa população parece maior do que a dos héteros, e num domingo de verão em Ipanema só vendo para crer: são bandeiras em arco-iris, tangas extravagantes, alguns de brincos, pulseiras, colares, cabelos de todas as cores e formatos; a paquera é franca e aberta, prova da liberdade que têm todas as pessoas, nos dias de hoje, de escolher o que querem ser, em matéria inclusive de sexo. Mas eu me pergunto: nos tempos passados, será que eram tantos assim, só que enrustidos, ou essapopulação cresceu tanto? Não sei se é a onda _ ou moda _ do casamento gay, de que tanto se fala, que pegou, como tantas modas pegam ou não. Mas penso queninguém se torna gay de repente, só porque está na moda; alguma semente deve existir, lá no fundo do peito, desde sempre, e como não existem mais os problemas de repressão, quem tinha razão era Cole Porter, em sua maravilhosa canção, Anything goes (numa tradução livre, Tudo é válido).

Tudo bem, tudo certo, só que _ volto a dizer _ ninguém fica homossexual porque está na moda, e é aí que entra uma outra indagação que não tem nada a ver, mas pensamentos são assim mesmo: vão chegando e não têm nada a ver um com o outro.

 Existem os que não sabem cozinhar um ovo, e por mais que esteja na moda nos dias de hoje, para homens e para mulheres, entrar na cozinha e fazer um prato maravilhoso, não é esse fato que vai ajudar ninguém a fazer um ovinho mexido delicioso. Ou você nasce com o dom divino de lidar com as panelas, ou não, e isso não se aprende: é dom mesmo.

Mas eis que hoje você liga a televisão, abre uma revista, e se dá conta de que todo mundo agora é chef. Todas as mocinhas e rapazes que não sabem o que ser na vida, fazem um curso em Paris, Londres ou Nova York, viram estrelas dos restaurantes mais fantásticos, e eu não consigo  entender que tantas pessoas tenham adquirido esse talento que, no meu entender, vem do berço: o de cozinhar bem. Para mim, ou você nasce com tendência a ser gay, ou a mão boapara fazer um belo prato na cozinha, porque certas coisas são difíceis de improvisar.

         O mais provável? Que eu cada vez entendo menos desse mundo.
        

2 comentários:

  1. Concordo com a ideia do é ou não é (não creio nessa história de modismo homossexual...), entretanto no que tange ao homossexualismo, creio que o "aumento" do quantitativo se dá em função das mudanças do mundo! Hoje é "bem mais fácil" se assumir homossexual, não mais uma necessidade de se esconder, como no passado!
    Super beijo

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  2. Pois é. Muito boa a comparação com os intentos de cozinheiro que há por aí se multiplicando. Cozinhar bem é uma questão de cultura (de berço) e tradição e também de gosto e jeito. Mas é principalmente questão de aprendizagem e dedicação. Se existisse curso superior pra formar chef de cozinha também deveria existir pra formar presidente de empresa. Muito importante entender que Chef de Cozinha é o mais alto cargo dentro de uma cozinha onde o normal é começar, como em todo ofício, "por baixo". Muito bonito ir pro Cordon Bleu e voltar triunfante ao Brasil se auto-intitulando chef de cozinha. Bonito e fácil. Difícil será abrir e sustentar um restaurante de sucesso.

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