sábado, 15 de outubro de 2011

Falando de igualdade




Domingo, 16 de outubro de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo



Em breve teremos um novo ministro no Supremo Tribunal Federal _ aliás, quanta demora _ e a presidente Dilma deverá escolher entre quatro nomes cotados para o cargo. Nenhum homem faz parte dalista.
Muito bonito, dar força às mulheres, nomeá-las para cargos importantes, mostrar ao mundo que o Brasil acredita na igualdade dos sexos, etc. e tal; mas menos, presidente, menos. Não é possível que no país inteiro só existam quatro pessoas com capacidade para exercer o cargo de juiz do STF, e que as quatro sejam mulheres. Aliás, já está mais do que na hora desses ministros serem nomeados por outros critérios, não por escolha pessoal do presidente em exercício (e indicações dos aliados), nem é preciso dizer porque.
Quantas ministras temos no governo? São 9 ou 10, fora as que exercem altos postos na administração _ e já tem uma prontinha para ser nomeada para um ministério que ainda está sendo criado; até agora são 39, será que não chega?
Lembro de quando Dilma tomou posse; havia mulheres seguindo (correndo) o carro que levava a presidente rumo ao Palácio do Planalto. Uma sugestão: trocar a guarda que fica na rampa do palácio _ aquela que usa um capacete com plumas _ por exemplares do sexo feminino. Aliás, o modelito combinaria.
Esse excesso de proteção é incômodo; há, nas entrelinhas, um ranço antigo, como se as mulheres não tivessem capacidade para conduzir suas vidas, seja isso lá o que for. Só que elas têm sim; têm capacidade para dirigir um caminhão na estrada, um Boeing, para terem altos cargos na Segurança Pública, para presidir o FMI, e até para serem eleitas presidente de um país. Esse proteção exagerada, essas nomeações exageradas _ e o discurso insistente da presidente _ as faz parecer crianças incompetentes, frágeis, incapazes, que precisam de “uma força” para chegar a alguma coisa. Mentalidade mais velha do que a Sé de Braga, e mais 1970, impossível.
Não adianta existir uma lei obrigando os partidos a terem 20 % de candidatos dosexo feminino; se poucas se candidatam a cargos eletivos, é porque não querem, elas têm esse direito. As leis, ah, as leis; não existe uma que proíbe roubar? E onde estão os ministros _ e aquela ministra, lembra? _ que fizeram recentes “malfeitos”? Alguém sabe se está rolando uma sindicância, um processo, se algum dia vamos saber em que deu tudo que um dia foi manchete? Silêncio absoluto.
Essa história de fazer discursos sobre as conquistas femininas ficou velha, e a humanidade não pode ser dividida entre homens e mulheres; ela é constituída de pessoas. Pessoas essas que deveriam ter o direito, garantido pela Constituição, às coisas mais elementares, e no lugar desse blá-blá-blá, seria melhor cuidar do que é essencial. Desculpem, mas vou repetir o óbvio: saúde, segurança, educação.
O Brasil é _ deveria ser _ um país livre, onde as mulheres podem fazer tudo, inclusive posar para uma publicidade de soutien e calcinha, sem que isso setorne um problema de Estado.
É triste, mas a verdade é que os mais fortes serão sempre os vencedores, independente do sexo a que pertencem, e discurso algum vai mudar isso. O mundo sempre foi regido pela lei da selva, das savanas da África a Wall Street, e assim continuará sendo.
Modernize-se, presidente.

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