sábado, 1 de outubro de 2011

A verdade de cada um




Domingo, 2 de outubro de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo



Ninguém sabe o que o outro pensa, o que acha, o que quer, o que pretende fazer; sobretudo, do que é capaz de fazer. Uma pessoa não sabe o que se passa na cabeça de quem dorme com ela na mesmacama há 20 anos _ e talvez seja melhor assim. E quem pode afirmar saber quem é seu pai, quem é sua mãe, quem são seus filhos? Aconselho a quem estiver lendo a não responder a essa pergunta, para não dizer bobagem.
Existem homens que, depois de um longo casamento, saem de casa para comprar cigarros e nunca mais voltam. Segundo seus familiares, eles nunca tinham dado uma pista de que a vida não estava boa; que poderiam, de repente, tentar um outro rumo. Sempretive curiosidade de saber para onde vão esses homens que somem, e nunca mais são encontrados. Será que planejaram o que iam fazer, ou foi um impulso da hora? E em sua nova vida, terá mudado de cidade, de profissão, de nome? José Dirceu mudou até de cara, mas em se tratando de pessoas normais, nunca se vai ter essa reposta, pois os que fazem isso desaparecem, e para sempre. São muito estranhas, as pessoas.
Esses pensamentos me perturbam, desde que li sobre o caso do menino de 10 anos que assassinou a professora e depois se matou. A polícia está investigando, interrogando os colegas, e os pais _ pobres pais _ não vão escapar de ter que responder a perguntas cruéis; existe também a suspeita de ele ter sofrido bullying, o que, para alguns, seria uma explicação. Aliás, para esses alguns, o bullying, tão na moda, pode explicar tudo.
Mas por mais que todos – a polícia, os colegas, as professoras, a família, os psicólogos _ se esforcem, esse caso não será, jamais, esclarecido. Ninguém nunca soube, e nunca saberá, o que se passou na cabeça desse pobre menino. As hipóteses podem ser muitas, e o que todos procuram é a verdade, essa coisa abstrata que pode ser várias, dependendo de cada um.
Como o pensamento é livre, tenho uma opinião: o menino levou o revolver para a escola talvez para mostrar aos colegas, de pura traquinagem infantil; apontou a arma, ela disparou, e o tiro acertou a professora. Em se tratando de um garoto tranquilo, bom aluno, sem nenhum indício de ser violento, ele teria se desesperado ao ver o que aconteceu, daí o suicídio. Posso estar totalmente errada, mas como cada um tem o direito de imaginar qualquer coisa, foi o que me ocorreu.
Alguns coleguinhas estão contando que ouviram do menino que ele estaria falado em matar a professora. Mas crianças, além de terem uma imaginação fértil, também mentem muito; talvez por não saberem das consequências de suas palavras, talvez por se sentirem importantes e adultas, por estarem sendo interrogadas por policiais, a verdade é que não se pode confiar muito no que elas dizem.
E nem sempre as coisas têm uma lógica. Será que pessoas perfeitamente normais podem ter um momento de loucura, e nesse momento fazer coisas em que nunca tinham pensado? Será que um revolver na mão dá uma sensação tão grande de poder, que leva alguém a cometer um ato de total desvairio? Pode ser que não, mas também pode ser que sim. Já lemos muito sobre isso.
Mas o caso do menino que matou a professora e que depois se matou _ disso eu tenho certeza _ está condenado a não ser, jamais, esclarecido.

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