Domingo, 5 de dezembro de 2010 por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
O RIO DE JANEIRO continua lindo, mas pensar que a paz reina sobre a cidade é ilusão. Paira no ar um excesso de ufanismo, mas é preciso ser muito ingênuo para achar que os problemas estão resolvidos; longe disso. A cocaína e a heroína davam um bom lucro, mas como o crack é muito mais barato, os empresários estão se sentindo prejudicados, mesmo tendo dobrado os preços. É preciso recuperar o dinheiro que não entra mais.
A droga existe -e vai continuar a existir- em quase todas as grandes capitais do mundo, mas só no Rio o tráfico toma conta de territórios, onde só entra quem os traficantes deixam. Um "Estado" dentro de outro -como o Vaticano dentro de Roma, com todo o respeito.
Mas existem coisas difíceis de entender: por exemplo, como as UPPs conseguiram pacificar alguns morros sem um só tiro, um só morto? Milagre, ou capacidade das nossas polícias? E onde foram parar todos aqueles bandidos que subiram o morro fugindo dos blindados da Marinha? Aliás, uma curiosidade: para que a Marinha tem blindados?
Todos sabemos que a droga, no mundo todo, movimenta rios de dinheiro. Não devem ser esses pobretões que vemos na TV, de sandália de dedo, bermuda e sem camisa que fazem as grandes transações do tráfico. Os que comandam de verdade não moram na "luxuosa" residência triplex, com TVs de plasma -que são vendidas em dez prestações de R$ 99 e que hoje está em todas as casas dos que subiram um degrau na escala social- e com uma piscina de plástico das mais modestas.
Mas ninguém sabe o nome de um só dos verdadeiros chefões da droga, que devem morar na zona sul e jamais pisaram em nenhuma favela, nem dos que fazem a ponte entre os traficantes e os chefões. Essa ponte deve existir, é claro, e o tráfico já está se organizando para sobreviver à guerra. É prudente que as autoridades não subestimem o poder de fogo do inimigo.
O verão está chegando, o Carnaval vem aí, a cidade vai entrar em outro clima, as obras necessárias para abrigar a Copa de 2014 estão atrasadas, e a guerra vai continuar. O governador Sérgio Cabral vai ter que se virar para dar conta de tudo que o Rio precisa para que a cidade não dê vexame, de preferência viajando menos.
Liberdade, abre as asas sobre nós é um lindo samba, mas não corresponde à realidade; a guerra não acabou, e não sei de quem a população tem mais medo: se dos traficantes ou de certos policiais.
A sociedade civil tem que colaborar, é o que se ouve. Mas como? Se todos os usuários de droga parassem de se drogar, o tráfico acabaria. Mas não dá para esperar esse belo gesto de cidadania.
Talvez, para o Rio se reerguer, seja preciso começar do começo, mas para isso é fundamental a ajuda dos cariocas. Corrigindo, por exemplo, um de seus hábitos mais banais, como dirigir falando ao celular. E quando isso acontecer, não tentar se livrar do flagra dando uma cervejinha para o policial. São dois crimes, sendo que o segundo é mais grave, e se chama suborno.
Pensando bem, não conheço uma só pessoa que não faça isso. E também nunca ouvi falar de policial que tenha recusado o "agrado".
A droga existe -e vai continuar a existir- em quase todas as grandes capitais do mundo, mas só no Rio o tráfico toma conta de territórios, onde só entra quem os traficantes deixam. Um "Estado" dentro de outro -como o Vaticano dentro de Roma, com todo o respeito.
Mas existem coisas difíceis de entender: por exemplo, como as UPPs conseguiram pacificar alguns morros sem um só tiro, um só morto? Milagre, ou capacidade das nossas polícias? E onde foram parar todos aqueles bandidos que subiram o morro fugindo dos blindados da Marinha? Aliás, uma curiosidade: para que a Marinha tem blindados?
Todos sabemos que a droga, no mundo todo, movimenta rios de dinheiro. Não devem ser esses pobretões que vemos na TV, de sandália de dedo, bermuda e sem camisa que fazem as grandes transações do tráfico. Os que comandam de verdade não moram na "luxuosa" residência triplex, com TVs de plasma -que são vendidas em dez prestações de R$ 99 e que hoje está em todas as casas dos que subiram um degrau na escala social- e com uma piscina de plástico das mais modestas.
Mas ninguém sabe o nome de um só dos verdadeiros chefões da droga, que devem morar na zona sul e jamais pisaram em nenhuma favela, nem dos que fazem a ponte entre os traficantes e os chefões. Essa ponte deve existir, é claro, e o tráfico já está se organizando para sobreviver à guerra. É prudente que as autoridades não subestimem o poder de fogo do inimigo.
O verão está chegando, o Carnaval vem aí, a cidade vai entrar em outro clima, as obras necessárias para abrigar a Copa de 2014 estão atrasadas, e a guerra vai continuar. O governador Sérgio Cabral vai ter que se virar para dar conta de tudo que o Rio precisa para que a cidade não dê vexame, de preferência viajando menos.
Liberdade, abre as asas sobre nós é um lindo samba, mas não corresponde à realidade; a guerra não acabou, e não sei de quem a população tem mais medo: se dos traficantes ou de certos policiais.
A sociedade civil tem que colaborar, é o que se ouve. Mas como? Se todos os usuários de droga parassem de se drogar, o tráfico acabaria. Mas não dá para esperar esse belo gesto de cidadania.
Talvez, para o Rio se reerguer, seja preciso começar do começo, mas para isso é fundamental a ajuda dos cariocas. Corrigindo, por exemplo, um de seus hábitos mais banais, como dirigir falando ao celular. E quando isso acontecer, não tentar se livrar do flagra dando uma cervejinha para o policial. São dois crimes, sendo que o segundo é mais grave, e se chama suborno.
Pensando bem, não conheço uma só pessoa que não faça isso. E também nunca ouvi falar de policial que tenha recusado o "agrado".
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