segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O casamento ainda .




Domingo, 1 de maio de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
Se houvesse um programa de TV tipo perguntas e respostas para falar sobre qualquer detalhe do casamento de William e Kate, eu me candidataria. Tem sido um tal bombardeio de notícias que me considero uma expert no assunto. 
As TVs mostraram todos os casamentos, desde o da mãe da atual rainha como também aqueles de que já havíamos esquecido. Alguém lembrava do da princesa Margaret com o fotógrafo Armstrong Jones? Do da princesa Ann com o capitão Philips? Esses, e todos os outros, acabaram em divórcio, menos o do irmão mais moço do príncipe Charles, Edward, que ninguém nem lembrava que existia.
Na última semana devo ter visto o casamento de Diana umas 250 vezes, e me pergunto se, na época, alguém achou bonito seu vestido. Era horrendo, e a noiva, gorduchinha, nem sombra da mulher radiosa que viria a se tornar. Mas de tudo o que eu vi, o que mais me espantou foi a entrevista de um namorado de Diana, Charles Ewitt, que merece o título de o cafajeste do século.
Com o maior cinismo, ele contou como o romance havia começado, detalhes da relação amorosa dos dois e até a mãe dele deu o ar de sua graça -ele tinha a quem sair. Os dois falaram de Diana como não se fala de nenhuma mulher; nenhuma, muito menos de uma princesa real.
Ok, Diana era estilosa e tonta, e ainda casada, confessou, também pela TV, não só que tinha tido um caso como que, na época, era apaixonada por ele; em suas próprias palavras, "I adored him". Nós, pobres mortais de um país descoberto há apenas 511 anos, temos como norma não escrita, mas obedecida pela maioria, que desses assuntos não se fala publicamente; homens, sobre seus romances, menos ainda, muito menos quando a mulher é casada. Foi demais.
Esse Ewitt era um gentleman que frequentava a nobreza, cobrou uma grana para dar a tal entrevista e, não contente, tentou (não sei se conseguiu) vender as cartas que havia recebido de Diana por milhões de libras.
No festival sobre os Windsor, que rendeu a semana toda, teve também a cena gravada -igualzinha às de nossos políticos recebendo dinheiro- de Sarah Ferguson, aquela ruiva que foi casada com o príncipe Edward, fechando um negócio de 500 mil libras para levar um grupo escuso a conhecer seu ex, o que facilitaria uma tenebrosa transação, quanta baixaria.
Kate é simpática; não é bonita -é bonitinha- e vamos ver em que tipo de mulher vai se transformar quando desabrochar. E é sincera: não esconde, em nenhum momento, o quanto está apaixonada, o quanto está feliz.
Além da torcida normal, para que sejam muito felizes, vamos torcer também para que a casa real se livre dessa nuvem negra em que viveu anos -chamada, pela rainha, de "annus horribillis"; que os Windsor passem a se comportar como pessoas normais, que não lavam sua roupa suja em público, nem confessam suas traições pela TV.
Para isso deve ajudar, e muito, o sangue de Kate, que não é azul, mas vermelho, como o de uma pessoa de carne e osso; como o de uma pessoa normal.

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