domingo, 21 de agosto de 2011

Ecologia , jornalismo e elegância .



Domingo, 15 de agosto de 2010, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
A ECOLOGIA ENTROU devagar na mente das pessoas. Quando ouvi falar pela primeira vez do assunto, nem prestei muita atenção; achei estranho pensar em mudar hábitos que praticava desde a infância e que naquela época eram normais. Tenho em mente, como se fosse hoje, Cachoeiro do Itapemirim, no Espírito Santo, onde morava minha avó. Um rio separava a cidade, e havia os que moravam do lado de cá e os que moravam do lado de lá; todas as casas davam frente para a rua e as cozinhas para o rio. As cozinheiras faziam o que era de praxe: jogavam os restos de comida pela janela, no que era a lata de lixo da cidade, e ninguém se dava conta de que morar de frente para o rio seria o maior dos luxos. As pessoas largavam nas calçadas saquinhos vazios, maços de cigarro amassados, cascas de banana, latinhas vazias de refrigerante, e todos achavam que isso era o certo. O tempo foi passando, os jornais começaram a falar de ecologia, e latas de lixo foram aparecendo. Até quem não é radical hoje procura onde jogar aquela notinha perversa que vem junto com o troco, apenas uma questão de educação: se não fazemos isso em nossa casa, por que fazer na cidade, que também é nossa? Mesmo os mais desligados veem hoje, claramente, o que está acontecendo: geleiras desaparecendo, tsunamis matando milhares de pessoas, deslizamentos de terra diários, pequenas ilhas da Indonésia ameaçadas de desaparecer, ondas de calor na Rússia, enchentes no Paquistão, e, há dias, um imenso iceberg, quatro vezes maior do que a ilha de Manhattan, se soltou na Groenlândia. Como o planeta não tem assessor de imprensa, não dá entrevistas nos jornais nem na TV, é a sua única maneira de reclamar dos abusos que estão cometendo, e as catástrofes chegam cada vez mais perto: na semana passada, uma linda praia em Arraial do Cabo amanheceu com um óleo grosso em toda sua extensão, que ninguém sabe de onde veio, e só daqui a 20 dias vai se ter ideia do que se trata. Com tudo isso, ainda tem gente querendo até mudar o curso dos rios; isso não pode dar certo. Agora um pouquinho de política: parabéns ao "Jornal das 10", da Globonews, que conseguiu entrevistar os candidatos sem o engessamento tradicional dos debates, com perguntas curtas e objetivas, e ainda com direito a comentários no bloco seguinte sobre a atuação dos candidatos. Foi uma conversa civilizada, cordial e sem estresse, nem da parte dos entrevistadores -André Trigueiro e Carlos Monforte-, nem dos entrevistados, que tinham que raciocinar para responder, e não chegar com o discurso já decorado; nem todos conseguiram, pois isso não se aprende, mas o formato foi encontrado, e é o ideal. Uma ideia elementar: colocar um relógio em frente ao candidato, para que ele acompanhe o tempo que lhe resta e não seja surpreendido com um corte no meio do raciocínio. Outro comentário -e esse não tem nada a ver com política: preste atenção à elegância de Marina Silva. Suas roupas são discretas, a combinação de cores, perfeita. Seu porte, com o xale nos ombros, faria inveja a Gisele Bündchen, e ponto para as bijuterias feitas de contas e sementes da Amazônia que, segundo consta, são feitas por ela mesma; isso é que é ter estilo. Além disso, a candidata é serena, bem educada e não grita, coisa rara na política; suas aparições são uma lição de bom gosto a ser imitada pela peruagem nacional. Chiquérrima, Marina.

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