Domingo, 3 de outubro de 2010 por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
COMO EU ADORO eleição, estou torcendo para que haja um segundo turno. Se isso acontecer, vamos poder saber mais das propostas dos candidatos, conhecê-los um pouco melhor, com debates mais verdadeiros, de preferência dois candidatos sem tempo marcado para perguntas e respostas.
Alguém, não me lembro mais quem, prometeu abrir 6.000 creches; e quem vai sair contando, por esse país tão grande? Se tanto faz, por que não prometer 60 mil, 6 milhões, já que ninguém vai mesmo cobrar?
A vida de Marina e Serra nós conhecemos bem; a de Dilma é meio misteriosa. Sabemos que ela lutou contra a ditadura, foi presa e torturada, era do PDT, trocou pelo PT, teve dois maridos; e quase mais nada, pois a candidata não dá entrevistas.
O eleitorado só ficou sabendo que ela tinha uma filha dias antes dessa filha ter um bebê; há cerca de um mês se soube, pela Folha -até então ninguém sabia-, que tinha sido sócia de uma lojinha de bugigangas (que faliu) em Foz do Iguaçu, e até hoje não está claro se ela planejava as ações ou empunhava metralhadora, quando lutava contra a ditadura.
Lembro que há alguns anos a imprensa -sempre ela- descobriu que um candidato a candidato à Presidência, nos EUA, tinha uma empregada mexicana ou asiática, que havia entrado irregularmente no país. Os jornais estamparam, e ele deixou a vida pública.
Qualquer americano sabe da vida do presidente Obama, da dos seus pais e dos seus avós. É um direito do eleitor saber em quem está votando.
O que faz com que se escolha um candidato, e não o outro, é seu passado, sua coerência, a capacidade de escolher para sua equipe as pessoas mais competentes e de mais confiança; como os cavalos de corrida, seu retrospecto. E sobretudo, acreditar nele.
Esta noite, alguns vão dormir felizes, outros com dor de cotovelo, outros, talvez, com alívio pela campanha ter acabado, e há também os que vão beber muito -por qualquer dessas razões.
Para os outros cargos além da Presidência, são tantos os candidatos, a maioria totalmente desconhecida, que a tendência é votar em alguém de cujo nome já se ouviu falar, mesmo que só de quatro em quatro anos, o que, aliás, é perigosíssimo.
Mas alguns são tão absurdos que eu gostaria que houvesse uma lista paralela, com uma urna paralela, para se votar nos cinco candidatos em quem jamais se votaria. Eu adoraria isso.
Você aí, que não precisa votar, porque passou dos 70, deixe de preguiça. Não precisa usar gravata, basta um jeans e uma camiseta; pegue o título de eleitor e a identidade (com foto) e não perca esse privilégio, que é escolher quem vai governar seu país. Nosso país.
Desta vez vai demorar, deve ter fila, mas sempre vale a pena. Quando chegar em casa, é ligar a televisão, se preparar para dormir tarde -a apuração só vai terminar lá pela meia-noite- e torcer, torcer muito.
Por um segundo turno, é claro.
PS - E como a vida continua, perigo à vista: uma determinada fábrica de tintas que está colorindo o Rio de Janeiro com as piores cores, como se fosse uma cidade cenográfica, anuncia pela TV que seu próximo destino é Ouro Preto. Socorro, autoridades. Isso é muito grave.
Alguém, não me lembro mais quem, prometeu abrir 6.000 creches; e quem vai sair contando, por esse país tão grande? Se tanto faz, por que não prometer 60 mil, 6 milhões, já que ninguém vai mesmo cobrar?
A vida de Marina e Serra nós conhecemos bem; a de Dilma é meio misteriosa. Sabemos que ela lutou contra a ditadura, foi presa e torturada, era do PDT, trocou pelo PT, teve dois maridos; e quase mais nada, pois a candidata não dá entrevistas.
O eleitorado só ficou sabendo que ela tinha uma filha dias antes dessa filha ter um bebê; há cerca de um mês se soube, pela Folha -até então ninguém sabia-, que tinha sido sócia de uma lojinha de bugigangas (que faliu) em Foz do Iguaçu, e até hoje não está claro se ela planejava as ações ou empunhava metralhadora, quando lutava contra a ditadura.
Lembro que há alguns anos a imprensa -sempre ela- descobriu que um candidato a candidato à Presidência, nos EUA, tinha uma empregada mexicana ou asiática, que havia entrado irregularmente no país. Os jornais estamparam, e ele deixou a vida pública.
Qualquer americano sabe da vida do presidente Obama, da dos seus pais e dos seus avós. É um direito do eleitor saber em quem está votando.
O que faz com que se escolha um candidato, e não o outro, é seu passado, sua coerência, a capacidade de escolher para sua equipe as pessoas mais competentes e de mais confiança; como os cavalos de corrida, seu retrospecto. E sobretudo, acreditar nele.
Esta noite, alguns vão dormir felizes, outros com dor de cotovelo, outros, talvez, com alívio pela campanha ter acabado, e há também os que vão beber muito -por qualquer dessas razões.
Para os outros cargos além da Presidência, são tantos os candidatos, a maioria totalmente desconhecida, que a tendência é votar em alguém de cujo nome já se ouviu falar, mesmo que só de quatro em quatro anos, o que, aliás, é perigosíssimo.
Mas alguns são tão absurdos que eu gostaria que houvesse uma lista paralela, com uma urna paralela, para se votar nos cinco candidatos em quem jamais se votaria. Eu adoraria isso.
Você aí, que não precisa votar, porque passou dos 70, deixe de preguiça. Não precisa usar gravata, basta um jeans e uma camiseta; pegue o título de eleitor e a identidade (com foto) e não perca esse privilégio, que é escolher quem vai governar seu país. Nosso país.
Desta vez vai demorar, deve ter fila, mas sempre vale a pena. Quando chegar em casa, é ligar a televisão, se preparar para dormir tarde -a apuração só vai terminar lá pela meia-noite- e torcer, torcer muito.
Por um segundo turno, é claro.
PS - E como a vida continua, perigo à vista: uma determinada fábrica de tintas que está colorindo o Rio de Janeiro com as piores cores, como se fosse uma cidade cenográfica, anuncia pela TV que seu próximo destino é Ouro Preto. Socorro, autoridades. Isso é muito grave.
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