Domingo, 10 de abril de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo
Aos cem dias do governo Dilma é impressionante o número de vezes em que saiu na imprensa "Dilma se irritou", "Dilma ficou irritada".
A presidente sempre teve fama de geniosa, mas foram tantas as ocasiões em que seu temperamento virou notícia que não dá para acreditar. É bom que ela seja sóbria e fale pouco, o que está sendo um alívio geral. Mas só assim, de memória: Dilma se irritou quando houve o apagão; se irritou com uma tradutora em NY; se irritou com Henrique Meirelles porque ele teria divulgado que imporia condições para ficar no Banco Central; se irritou quando, durante a campanha, foi questionada sobre a volta da CPMF e sobre o aborto; se irritou com a assessoria quando trocou o nome de uma cidade do Nordeste. Essas são apenas algumas das irritações públicas, imagine as privadas.
Lula falava muito, mas só sobre o que queria; não disse nem vai dizer uma só palavra sobre os passaportes especiais concedidos à sua família ítalo-brasileira. Já o estilo de Dilma é confortável. Como fala pouco, não precisa explicar os gastos dos cartões corporativos da Presidência, que aumentaram 8,2% em apenas cem dias, nem as ações do Ministério da Pesca, minha grande curiosidade há anos. Quais estarão sendo os feitos de Ideli Salvatti?
Quem trabalha para o governo não pode piar, pois algumas das irritações presidenciais acabaram em demissão ou em não nomeação -de quem a irritou, é claro. Dilma e Lula não são iguais, mas um traço de seus perfis é parecido: eles não se esquecem dos que, em algum momento, discordaram de seus pensamentos, e esperam a hora para dar o troco. Quando ela chega, é quase como dizia Maquiavel: a bondade deve ser feita aos poucos, a maldade, de uma vez só. Quase: a diferença é que para os amigos, aliados e correligionários, a bondade é tão grande, que basta uma (para cada).
Será que existe no fundo, lá no fundo, um espírito de vingança? Seria um absurdo achar que Dilma tem, em seu caráter, traços ditatoriais -logo ela, que tanto sofreu com a ditadura militar. Mas dentro de um contexto humano, é compreensível que ela se comporte, agora, um pouco como os militares se comportaram. Eles achavam que podiam tudo, agora é ela quem (acha que) pode tudo; faz sentido. Às vezes sua vontade -ou a do seu partido, não sei- extrapola o aceitável quando se fala de uma democracia plena. Brizola -lembra dele, presidente - disse, na primeira posse de Lula: "isso vai ser uma ditadura stalinista".
Presidente, pegue mais leve. Mesmo tendo recebido uma enorme aprovação, lembre-se que muita gente não votou na senhora. Obrigar o Bradesco a votar pela troca do presidente da Vale -que teve uma atuação brilhante- sob a ameaça de não haver renovação de um contrato que vencerá no fim do ano é inaceitável. E pior: o banco aceitou. Dilma deve estar irritada com as opiniões do ministro Mantega e do presidente da Petrobras, que diferem: um diz que a gasolina vai aumentar, o outro que não vai, e ela não gosta disso.
Não é razoável que um/uma presidente fique irritado/irritada com pessoas que não rezam pela sua cartilha e acham que o Brasil não é um feudo. É um país, e tem dono: pertence aos quase 200 milhões de brasileiros.
Lula falava muito, mas só sobre o que queria; não disse nem vai dizer uma só palavra sobre os passaportes especiais concedidos à sua família ítalo-brasileira. Já o estilo de Dilma é confortável. Como fala pouco, não precisa explicar os gastos dos cartões corporativos da Presidência, que aumentaram 8,2% em apenas cem dias, nem as ações do Ministério da Pesca, minha grande curiosidade há anos. Quais estarão sendo os feitos de Ideli Salvatti?
Quem trabalha para o governo não pode piar, pois algumas das irritações presidenciais acabaram em demissão ou em não nomeação -de quem a irritou, é claro. Dilma e Lula não são iguais, mas um traço de seus perfis é parecido: eles não se esquecem dos que, em algum momento, discordaram de seus pensamentos, e esperam a hora para dar o troco. Quando ela chega, é quase como dizia Maquiavel: a bondade deve ser feita aos poucos, a maldade, de uma vez só. Quase: a diferença é que para os amigos, aliados e correligionários, a bondade é tão grande, que basta uma (para cada).
Será que existe no fundo, lá no fundo, um espírito de vingança? Seria um absurdo achar que Dilma tem, em seu caráter, traços ditatoriais -logo ela, que tanto sofreu com a ditadura militar. Mas dentro de um contexto humano, é compreensível que ela se comporte, agora, um pouco como os militares se comportaram. Eles achavam que podiam tudo, agora é ela quem (acha que) pode tudo; faz sentido. Às vezes sua vontade -ou a do seu partido, não sei- extrapola o aceitável quando se fala de uma democracia plena. Brizola -lembra dele, presidente - disse, na primeira posse de Lula: "isso vai ser uma ditadura stalinista".
Presidente, pegue mais leve. Mesmo tendo recebido uma enorme aprovação, lembre-se que muita gente não votou na senhora. Obrigar o Bradesco a votar pela troca do presidente da Vale -que teve uma atuação brilhante- sob a ameaça de não haver renovação de um contrato que vencerá no fim do ano é inaceitável. E pior: o banco aceitou. Dilma deve estar irritada com as opiniões do ministro Mantega e do presidente da Petrobras, que diferem: um diz que a gasolina vai aumentar, o outro que não vai, e ela não gosta disso.
Não é razoável que um/uma presidente fique irritado/irritada com pessoas que não rezam pela sua cartilha e acham que o Brasil não é um feudo. É um país, e tem dono: pertence aos quase 200 milhões de brasileiros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário