domingo, 21 de agosto de 2011

Sexo e Batina



Domingo, 6 de junho  de 2010 por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

Pedofilia, um crime abominável. Será que há mais pedófilos agora do que em outros tempos? Claro que não. Desde que o mundo é mundo, tios seduzem sobrinhas, pais seduzem suas próprias filhas, e sempre existiram casos escabrosos no seio da Santa Madre Igreja, só que dessas coisas não se falava. Quem nunca ouviu contar que numa cidadezinha perdida, uma adolescente teve um filho do seu próprio pai? Uma criança que passa por esse tipo de abuso não entende o que está acontecendo, e se entendesse e contasse para a mãe, provavelmente seria chamada de mentirosa. E contar o que? Que aquele homem tão respeitado tinha segurado ela no colo e acariciado suas perninhas, de maneira exatamente igual _ para ela _ à sua própria mãe, sua própria avó?
Pedofilia, para acontecer, costuma ter a ver com poder. Diante de uma criança, o poder de um pai, de um medico, de um adulto conhecido, é imenso; imagina o de um padre. O que é dito num confessionário pode ser muito erótico, sobretudo se o padre puxar pela língua da criança. Mas uma coisa sempre me intrigou: nunca se ouve falar em crime de pedofilia praticado por mulher. Há alguns anos houve um episódio nos EUA de uma professora que, acusada de manter relações com um aluno de 16 anos, foi julgada e condenada. Quando saiu da prisão, o aluno já era maior de idade; eles foram morar juntos, tiveram um filho, e só não sei se foram felizes para sempre. Mas sinceramente: achar que um garotão de 16 anos foi seduzido por uma mulher de 28, é apenas ridículo. Pelo que os fatos têm demonstrado, a pedofilia é doença, e doença incurável. Não adianta achar que a solução é ser tratado por psicólogos. É totalmente irreal imaginar que em um pais como o nosso, onde as prisões são jaulas tenebrosas e superpopuladas, um pedófilo vai ser “tratado” e se curar; tanto quanto é delírio pensar em monitorar os presos que saem para passar o Natal com a família, fazendo com que eles usem a pulseirinha que permite o seu rastreamento. Prepare-se: a licitação seria dispensada, as pulseirinhas custariam uma fortuna, e pouco tempo depois estariam à venda nos camelôs da cidade, com o manual de instruções ensinando a como driblar a policia. Os padres têm sido muito acusados de pedofilia, ultimamente, mas pense um pouco: jogar num seminário um garoto de 16, 17 anos, com os hormônios explodindo, e pretender que ele se mantenha casto para o resto da vida _ não, isso não pode dar certo. É contra a natureza, e como é mais difícil para os padres seduzir mulheres, já que não convivem com elas, acaba sobrando para os garotos. Um belo dia, muito tempo depois, um deles resolve contar o que aconteceu na penumbra de uma sacristia, e vira um escândalo. E os casos de que nunca vamos saber, que devem ser milhares? Os padres precisam casar; não é justo deixá-los passar a vida em abstinência. Mas como seria para um padre começar um namoro? Convida para um chopinho, leva a garota para dançar? E motel depois, pode? Eu conheço uma moça que namorou um padre; tudo começou por telefone, e ela gostou tanto, mas tanto, que dizia, para quem quisesse ouvir, que nada como um padre que tivesse guardado a castidade durante anos, para acalmar as tensões, digamos assim, de uma mulher solitária. A única coisa que ela não me disse (e eu esqueci de perguntar) é se ele usava batina.

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