segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Aprendendo a viver



Domingo, 8 de maio de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

O tempo passa , a gente se pergunta e não consegue saber a resposta certa: afinal, homem e mulher nasceram para viver juntos, sim ou não?
Difícil saber; depois do tempo da paixão, grande parte das mulheres casadas anseia por um marido que viaje regularmente, chegue bem tarde em casa e não perca um jogo de futebol aos domingos.
Não, elas não querem necessariamente namorar, nem necessariamente viver sozinhas, mas bem que gostam, pelo menos às vezes, de serem donas de seu nariz e não terem que dar satisfação de suas vidas a ninguém -muito menos para os maridos. E comandar o controle remoto da televisão, coisa impossível quando se mora com um homem.
Elas vivem a vida em dois turnos: um quando estão com eles, outro quando estão sem, e até os assuntos são diferentes. Adoram almoçar com as amigas, dizer bobagens, fingir que são solteiras e não têm hora para chegar, coisa que todos exigem das esposas -e a palavra no caso é essa mesma: exigem.
Não passa pela cabeça delas o adultério, não pela de todas. Mas que dá vontade de ser paquerada como nos antigos tempos -ah, que coisa boa. E mesmo adorando os filhos, que delícia seria ir para Búzios no fim de semana sem um pingo de responsabilidade, podendo tomar todas as caipirinhas que tiver vontade, sem pensar que na segunda-feira o caçula tem judô às oito e meia.
Responsabilidade: o maior fardo que existe no mundo, seja no trabalho, na família, na condução de uma casa. Tudo começa do começo, quando se vira uma pessoa adulta, portanto responsável por si mesma. Ah, como era bom ser criança e ter alguém para marcar a hora do dentista, por o termômetro, dar o antibiótico de oito em oito horas, telefonar para o médico e contar da febre, da dor de garganta.
Como é difícil ter que se cuidar, saber que se não fizer as coisas direito e tudo der errado, a culpa é só sua. A responsabilidade de ter um marido e manter um comportamento impecável para nunca deixá-lo mal diante da família, dos amigos, dos companheiros de trabalho; e a maior de todas, ter alguém que te ama e cujo sentimento você deve respeitar, passando tantas vezes por cima dos seus próprios, para não machucar, não ferir.
Não seria melhor viver inteiramente só e ter a liberdade suprema de só poder ferir a si mesma, sofrendo as consequências de todos os seus atos, mesmo os mais delirantes? Ter o direito de ser louca e totalmente irresponsável, quando der na telha?
Mas também seria tão bom ter alguém ao lado para dividir as dúvidas e os sofrimentos, as alegrias e as felicidades -se é que esse "dividir" existe mesmo, não é coisa inventada.
O problema é que, quando se está com alguém, se sonha com a solidão; por outro lado, quando se está só, fica-se imaginando o quanto seria bom estar com alguém, sobretudo quando o telefone não toca e não aparece um amigo para convidar para tomar um chope.
Mas para tudo na vida é preciso ser inteligente, até para ser feliz; por isso, se você está sozinha, lembre-se de todas as coisas insuportáveis da vida em comum. E quando estiver debaixo do edredom com o homem amado, pense no quanto é horrível a solidão, quando se está sem um amor.
Apenas uma maneira de ser prática e viver melhor -isso também se aprende.

Nenhum comentário:

Postar um comentário