segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Receita para uma união feliz

Domingo, 3 de abril de 2011, por Danuza Leão, para a Folha de S. Paulo

Quem quiser conhecer mesmo a evolução do mundo feminino nos últimos tempos basta fazer uma pesquisa tomando como base músicas do passado. As letras, é claro.
Outro dia acordei me lembrando de uma delas -isso me acontece às vezes- e me diverti. Não sei quem foi o compositor, mas ele era um gênio (e mais folgado, impossível).
Faz uma grande declaração de amor, nos moldes dele, a Celina, e penso que nenhuma mulher, nos dias de hoje, é venerada como ela foi. Começa assim: "Mulher, mulher é Celina, as outras são imitação" -até aí, tudo bem, tudo lindo, mas emenda com "me lava os pés quando chego, e me chama de papai". Alguma mulher recebe seu homem assim? A declaração continua: "duvido que as outras façam o que a Celina me faz, e por causa da Celina de tudo eu serei capaz". Pena que o jornal não tenha áudio -ainda.
Vamos combinar: algum homem, nos últimos tempos, disse a alguma mulher que por ela seria capaz de tudo? É claro que não; elas, que se queixam tanto dos homens, tinham que aprender com Celina, mas pensa que acabou? Não duvide, pois Celina fazia ainda mais, muito mais.
"De manhã me faz a barba, de tarde me dá beijinho, engoma o meu terno branco, e eu saio bonitinho", diz o samba.
E tudo isso, penso eu, sem pedir nada em troca, sem querer que ele assuma seu lado feminino, que ajude a lavar os pratos, sem discutir a relação, tem melhor do que a Celina? É claro que esse homem devia ser muito especial, para ter uma mulher com quem não dividia as despesas -"mulher minha não trabalha fora", ele devia dizer- e que só pensava em uma coisa: fazer feliz o homem que amava, grande Celina.
E vamos agora ao grand finale: "Se eu finjo ficar zangado, ela diz que sou um à toa", e conclui "você pode chegar muito tarde, que lugar de homem é no meio da rua", e aí vem o breque, "Celina".
Uma obra-prima, e penso que foram as tantas comemorações do dia, ou do mês ou do ano, nem sei mais, da Mulher -com maiúscula- que me fizeram lembrar desse samba e fazer uma pequena homenagem aos homens.
Não são as mulheres que têm do que se queixar, mas sim eles; qual a mulher, em 2011, que engoma o terno do marido para ele sair bonitinho? Elas são emancipadas, livres, têm os mesmos direitos que eles, como queriam, e ainda reclamam? Celina não reclamava de nada, e parecia ser bem feliz.
Mas esse homem também devia ser o máximo -e qual homem, em 2011, é assim? Eles hoje chegam em casa cansados, falando da sórdida troca do presidente da Vale, da taxa Selic, se a usina de Belo Monte deve ou não ser construída, se a importação de produtos da China está atrapalhando o comércio do Brasil. Qual a mulher que quer saber dessas coisas? Só Dilma.
Quando ele chegava em casa, Celina, enquanto lavava seus pés, devia ouvir as mais ternas e safadas declarações de amor, e é disso que mulher gosta, aliás, gostava. Se as mulheres aprendessem com Celina, a vida conjugal poderia ser muito mais bela, e isso sem nem falar da heroína nacional, Amelia, que achava bonito não ter o que comer.
Qual, já não se fazem mulheres como antigamente. E nem homens.

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